Publicado originalmente na Times of India.

Quando o Google lançou sua primeira loja de aplicativos em 2008, conhecida como Android Market, havia apenas 50 aplicativos disponíveis para os usuários. Na época, Eric Chu, que era um dos líderes do Google, descreveu a loja como mais um “marketplace” onde os desenvolvedores teriam um ambiente aberto e viável para lançar seu conteúdo. De fato, lançar um novo aplicativo era tão simples quanto se registrar como comerciante, fazer o upload do conteúdo e fornecer uma descrição. Para os desenvolvedores, essa foi a era de ouro para o lançamento de novos produtos. Naqueles primeiros anos, a otimização da loja de aplicativos e uma campanha de publicidade direcionada para mídia social poderiam ser suficientes para garantir que uma nova oferta fosse a opção para a maioria dos usuários.

Hoje, o cenário em torno do mercado de apps se apresenta de modo diferente. No primeiro trimestre de 2021, haviam 3,48 milhões de aplicativos para os usuários de Android explorarem. Para usuários de iPhone, haviam 2,22 milhões de apps disponíveis na Apple App Store. Neste novo ecossistema de aplicativos, os métodos que anteriormente funcionavam para os profissionais de marketing se tornaram muito menos eficazes. Novos produtos agora correm o risco de se perderem em um mar de concorrência. Por exemplo, basta considerar a eficácia da otimização da loja de aplicativos quando um novo aplicativo de saúde e fitness for lançado. De acordo com dados da App Annie, em 2020, 71.000 aplicativos foram lançados na Apple App Store e na Google Play Store, apenas nessa vertical. Os números do Statista indicam que quase 70% de todos os novos aplicativos não atingiram a marca de 1.000 downloads. Em síntese, a rivalidade entre novos lançamentos nunca foi tão feroz e a chance de sucesso nunca foi tão pequena.

Em meio a um aumento vertiginoso da concorrência nas lojas de aplicativos, os desenvolvedores necessitam explorar caminhos alternativos para garantir que seus aplicativos atinjam um público maior. Os fabricantes de dispositivos e operadoras de celular têm um profundo impacto na descoberta de novos aplicativos, inclusive ao permitir que os desenvolvedores ultrapassem a competitividade das lojas de aplicativos. Uma fato que mudou completamente a experiência de descoberta de novos apps é o aumento da utilização de apps pré-carregados ou recomendados diretamente nos celulares. Apesar de os preloads não serem novidade, a gama de aplicativos pré-instalados se expandiu de modo significativo ao longo dos anos. Muitos usuários agora consideram essa funcionalidade um recurso indispensável aos smartphone.. Em parte, essa mudança reflete o crescimento de plataformas de app discovery que intermediam o relacionamento entre as marcas e app developers com os fabricantes e as operadoras. Essas novas parcerias abriram caminho para que apps muito menores entrassem na arena dos preloads, ao trabalhar ao lado de outros novos desenvolvedores com auxílio de uma plataforma que lida diretamente com OEMs. Tais plataformas desenvolveram uma tecnologia que permite uma experiência de pré-embarque muito mais personalizada. Em essência, os fabricantes não impactam os usuários de uma maneira único. Em vez disso, eles veem os usuários como indivíduos e percebem que um aplicativo relevante para um usuário específico, é por vezes indesejado para outro.

Os benefícios dos aplicativos pré-carregados para usuários, desenvolvedores e fabricantes são claros. Para os usuários, há a facilidade que esses aplicativos oferecem – isso significa deixar de navegar na loja de aplicativos porque, em vez disso, os usuários recebem recomendações personalizadas e contextualizadas diretamente nos seus dispositivos. Os usuários confiam no software que foi cuidadosamente escolhido e testado pelo fabricante. Essa garantia de segurança significa que eles provavelmente terão menos preocupações com malware ou coleta de dados. O processo de descoberta de aplicativos direcionados às necessidades dos usuários garante uma fidelidade do cliente muito maior. A confiança que os usuários depositam nesses aplicativos beneficia fabricantes e desenvolvedores. Para os fabricantes, eles fortalecem sua marca, proporcionando maior satisfação do usuário. 

É provável que esses usuários atualizem seu dispositivo para o modelo mais recente quando ele for lançado, porque querem ter certeza de que os aplicativos que tinham anteriormente estarão disponíveis para eles no futuro. Além disso, os usuários tendem a evitar o inconveniente de comprar um dispositivo de uma marca diferente, o que implica reinstalar os aplicativos e serviços do seu antigo aparelho móvel. Para os desenvolvedores, trata-se da oportunidade de contornar a abundância de anúncios aos quais os usuários estão expostos todos os dias. Eles têm a oportunidade de ter seus aplicativos descobertos por milhões de usuários em todo o mundo. Dessa forma, os desenvolvedores garantem que sua oferta seja a primeira coisa que um usuário vê e instala. Quanto às operadoras, essa é a chance de manter um envolvimento constante com os assinantes, recomendar conteúdo aos usuários e oferecer ofertas especiais e atualizações.

A tecnologia de smartphones se desenvolveu rapidamente nos últimos 15 anos. Tais avanços abriram caminho para uma experiência de usuário cada vez mais personalizada. Os usuários querem se sentir como se seu dispositivo fosse uma extensão de sua personalidade: o dispositivo precisa saber quais aplicativos e serviços os usuários desejam no momento exato em que os usuários necessitam deles. O dispositivo deve então responder em tempo real para atender a essa demanda. Fabricantes e operadoras têm sido fundamentais para alcançar essa relação simbiótica. As recomendações de aplicativos no dispositivo facilitadas por plataformas de terceiros mudaram a forma como os usuários interagem com seus dispositivos. Avanços na tecnologia alimentada por IA demonstram que as recomendações são exclusivas para a pessoa que as recebe. Por exemplo, os aplicativos de entrega de alimentos podem ser exibidos aos usuários quando eles estão procurando restaurantes para viagem; plataformas de e-commerce que oferecem ofertas ou descontos específicos para a localização geográfica de um usuário podem ser recomendadas quando o usuário demonstra interesse em comprar algo específico. As recomendações podem ser adaptadas de acordo com o modelo do dispositivo, localização, padrões comportamentais do usuário e a hora exata do dia em que o engajamento é maior.

Embora possa não parecer óbvio, as operadoras de celular desempenham um papel vital no crescimento desse tipo de tecnologia. Ter dispositivos habilitados para 5G e capazes de facilitar experiências de realidade virtual e realidade aumentada é apenas um aspecto de oferecer a experiência de smartphone mais atualizada. Sem a expansão das redes para mercados emergentes e o investimento na infraestrutura necessária para velocidades de download mais rápidas e melhor cobertura móvel, esse hardware de última geração se torna improdutivo. Felizmente, o investimento no setor de telecomunicações em mercados emergentes, como América Latina e África, está em seu auge. Por esse motivo, podemos esperar mais oportunidades para os desenvolvedores se expandirem para esses locais, enquanto os fabricantes também colherão as recompensas geradas pelas vendas dinâmicas.

À medida que olhamos para o futuro, a indústria de apps não mostra sinais de desaceleração. Espera-se que as vendas de smartphones permaneçam altas, a inovação será ainda mais acelerada e os usuários desfrutarão de melhores experiências em seus smartphones, mais personalizadas e, em última análise, mais relevantes.

Elad Natanson

CEO, Appnext

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